Apresentação do Tessitura

Tessitura traz em si a ideia de composição, de harmonia, do fazer em pauta, do tecer em tela, ação de fazer que entrelaça ideias, fatos, partes e constrói no movimento do entrelaçar. Constrói ideias, constrói conhecimento, constrói ! Na música, na literatura, na tapeçaria, na produção do conhecimento ou no fazer pedagógico, tessitura nos remete à ideia de conjunto, cujo interior dialógico permite discutir, refletir, enfim, o pensar.

A relação entre tessitura e complexidade nos é cara. Edgar Morin nos ensina que complexidade advém de complexus, que significa o que está tecido junto, tecido com diferentes fios que se cruzam e entrecruzam formando um todo, garantindo as características de cada fio, de cada parte, de cada unidade. Morin também nos revela que somos seres multidimensionalmente constituídos. Por certo, somos parte e somos todos ao mesmo tempo, hologramaticamente. A complexidade nos ajuda nessa compreensão.

E a prática pedagógica nesse contexto?  E a prática investigativa nesse contexto? Adotamos tecer como verbo que se constitui em espinha dorsal do fazer pedagógico complexo e os princípios do pensamento complexo como guia para fundamentar o olhar e o pensar.

O grupo Tessitura nasceu muito antes de assim ser batizado. Nasceu da necessidade; mais do que da necessidade, nasceu da vontade de estudar, discutir e conversar, em grupo, sobre complexidade. Professora Ettiène e seus orientandos que tinham a complexidade como referencial teórico em suas pesquisas reuniam-se, em noites possíveis para todos, para leitura e discussão sobre a literatura de Edgar Morin. Era o ano de 2018 e as reuniões eram despretensiosas, com o único objetivo de estudar em grupo. Líamos juntos e discutíamos. Como no fluir natural da vida, o imponderável se fez presente e imprevistos aconteceram. Foi preciso postergar as reuniões do grupo. Alguns orientandos defenderam suas dissertações e a disponibilidade de outros ficou comprometida, inclusive, a da orientadora!

Mas, como quem inicia estudos sobre a complexidade sente-se transformado pelas primeiras compreensões, os orientandos sentiram vontade de retomar os encontros de estudos. Parecia que estudarmos sobre complexidade em um “todo” maior do que dois a dois, ou seja, orientadora e orientandos, seria mais interessante, mais profícuo e mais agradável. Estar em grupo é sempre melhor! Assim, no ano de 2019 as reuniões voltaram a acontecer, agora com o grupo acrescido de novos orientandos ingressantes no Programa de Pós-Graduação em Educação (Acadêmico) e no Programa de Pós-Graduação em Educação: Teoria e Prática de Ensino (Profissional).

Com os estudos iniciados, aventuramo-nos na escrita de um e-book, cujos capítulos seriam escritos em parceria entre orientandos e orientadora. Desafio posto, os capítulos seriam entrelaçados e compostos por estudos teóricos permeados por fundamentos da complexidade.

Os estudos prosseguiram e o e-book começou a ser desenhado por mestrandos, doutorandas e orientadora. Em uma dessas noites de estudos, os orientandos propuseram que o grupo fosse institucionalizado, que fosse certificado, que tivesse o selo “Certificado pela Instituição”. A orientadora, em princípio, argumentou que preferia manter o grupo livre de amarras institucionais, como um grupo autônomo. No entanto, frente às argumentações de todos e ao ânimo que tomou conta dos orientandos, decidiu levar à frente o anseio coletivo. Assim, mesmo fazendo parte de outros grupos de pesquisa, compreendeu que a criação de um grupo de pesquisa focado em estudos teóricos sobre complexidade na perspectiva do pensamento complexo é importante.

Assim, o grupo Tessitura consolidou-se em 2020, a partir das pesquisas e estudos teóricos desenvolvidos pelos orientandos de mestrado e doutorado da professora Dra. Ettiène Guérios, a qual desenvolve pesquisas nas áreas de educação matemática, formação de professores e complexidade no Programa de Pós-Graduação em Educação e no Programa de Pós-Graduação em Educação: Teoria e Prática de Ensino da Universidade Federal do Paraná.  O grupo desenvolve estudos e pesquisas no campo da formação de professores e da prática pedagógica, tendo como eixo teórico pressupostos da complexidade na perspectiva do pensamento complexo. Prevê a ampliação conceitual por meio de diálogos interteóricos, fortalecendo uma tessitura de conceitos e saberes que colabore para o desenvolvimento de uma perspectiva transdisciplinar na formação de professores em diferentes campos do conhecimento. 

Ao pensar no grupo, pensou-se também em uma marca que representasse sua essência; com isso, foi elaborada a marca apresentada na Figura 1.

Figura 1- Marca do grupo Tessitura

Ela representa o entrelace dos diferentes “fios”, que consistem nas diversas pesquisas, ideias, orientandos, por isso a definição pelas cores em sobretons de azul. Podemos compreender o pensamento complexo entrelaçando as pesquisas que possuem a fundamentação teórica comum baseada em Edgar Morin e, ao longo do tempo, caminham lado a lado, porém conservando o foco individual. A fonte traz leveza e pretende fomentar a ideia de movimento.

Porque a cor azul? Para remeter ao movimento das águas do mar e consequentemente ao que Morin em entrevista ao CNRS[1] em 06 de abril de 2020 nos diz:  “viver é navegar em um mar de incertezas, através de ilhotas e arquipélagos de certezas nos quais nos reabastecemos”.

[1]https://lejournal.cnrs.fr/articles/edgar-morin-nous-devons-vivre-avec-lincertitude

FONTE: GUÉRIOS, Ettiène Cordeiro; GÓES, Heliza Colaço; GÓES, Anderson Roges Teixeira. Complexidade e formação de professores: tessituras possíveis.  São Carlos: Pedro & João, 2021. 126p.